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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Conteúdos Enade



Itens retirados da
Portaria Inep nº 222 de 26 de julho de 2011
Publicada no Diário Oficial de 27 de julho de 2011, Seção 1, págs. 18 e 19


A prova do Enade 2011, no componente específico da área de Letras, tomará como
referencial os seguintes conteúdos curriculares:

I - Estudos lingüísticos:

a) formação histórica interna e externa da língua portuguesa;
b) fonologia, morfologia e sintaxe da língua portuguesa;
c) aspectos lexicais, semânticos, pragmáticos e discursivos da língua portuguesa;
d) aquisição da linguagem oral e escrita;
e) processos de leitura e produção de textos;
f) sociolingüística;
g) psicolingüística;
h) lingüística textual e análise do discurso;
i) gêneros do discurso.

II - Estudos literários:

a) conceitos de literatura e cultura;
b) texto, contexto e intertextualidade;
c) especificidade da linguagem literária;
d) períodos literários;
e) inter-relações da literatura com outros sistemas culturais e semióticos;
f) literatura e recepção.

III - Formação profissional:

a) teorias de aquisição e de aprendizagem de língua materna;
b) métodos de ensino de língua materna;
c) teorias e métodos de ensino de literatura;
d) tecnologias da informação e da comunicação;
e) ensino reflexivo.
Parágrafo único. As questões de estudos literários deverão enfocar os seguintes autores e
obras:

I – Poesia:

a) Tomás Antônio Gonzaga;
b) Manuel Bandeira;
c) Carlos Drummond de Andrade;
d) Ferreira Gullar;
e) Oswald de Andrade;
f) Cecília Meireles;
g) Jorge de Lima;
h) Hilda Hilst
i) Adélia Prado;
j) Bocage;
k) Fernando Pessoa.

II - Prosa:

a) José de Alencar – Lucíola;
b) Adolfo Caminha – Bom crioulo;
c) Machado de Assis – Memorial de Aires;
d) Guimarães Rosa – Miguilim;
e) Érico Veríssimo – Um certo capitão Rodrigo;
f) Clarice Lispector – Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres;
g) Jorge Amado – Capitães da Areia;
h) Luiz Vilela – Tarde da noite;
i) Eça de Queiroz – As cidades e as serras;
j) José Saramago – Ensaio sobre a cegueira;
k) Gabriel García Márquez – Cem anos de solidão;
l) Mia Couto – Terra sonâmbula;
m) Júlio Cortázar – Contos completos;
n) Gustave Flaubert – Madame Bovary;
o) Miguel de Cervantes – Dom Quixote;
p) Émile Zola – Germinal;
q) Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) – Mayombe.

III – Teatro

a) Jorge Andrade – Vereda da salvação;
b) Dias Gomes – O pagador de promessas;
c) Moliere – Dom Juan.

Art. 8º A prova do Enade 2011 terá, em seu componente específico da área de Letras, 30 (trinta) questões, sendo 3 (três) discursivas e 27 (vinte e sete) de múltipla escolha, envolvendo situações-problema e estudos de casos.

Lispector, Rosa e Alencar



...alguns artigos sobre Rosa, Clarice romance de 30. Sobre Miguilim creio ser importante considerar as relações que a novela tem com as demais, as personagens de Campo Geral (Miguilin) circulam pelas demais novelas. É o caso de Crivo (Cara de Bronze) e Miguel (o próprio Miguilim) em Buriti. Como o próprio Rosa afirmava "Campo Geral" traz em gérmen todo o livro. Talvez seja esta a razão do exame pedir "Campo Geral". 
(anotação de Prof. Márcio Moraes) 

Alguns destes artigos estão postados neste blog junto ao respectivo autor.

Seguem trabalhos específicos sobre os temas e outros que os relacionam.

Do Mutum ao Buriti Bom: Travessia de Miguilim,
de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro

Patriarcalismo e dionisismo no santuário do Buriti Bom (Aqui a relção citada acima sobre Campo Geral e Buriti)
Luis Roncari

Buriti Bom e as sete narrativas de Corpo de Baile


[PDF] CLARICE LISPECTOR E JOSÉ DE ALENCAR: UMA SAUDADE POLÍTICA DA TRADIÇÃO
... questão da tradição não está bem resolvida em Clarice o texto “GuimarãesClarice e depois”,
de Luis Bueno, no qual o autor contrapõe-se radicalmente ao ensaio de Silviano. Essa discussão
crítica já foi por nós devidamente estudada em nosso livro antes mencionado, cujo ...

[PDF] Nação, Nações: Modernistas ea geração de 30
[PDF] de usp.br

Bueno - IN: Via Atlântica - fflch.usp.br
... Trata-se antes de manifestação daquela avalia- ção negativa do presente, daquela
impossibilidade de ver no presente um ... o modernismo, é possível especular sobre como teria
sido difícil a aceitação do sertanejo de Guimarães Rosa ou da mulher de Clarice Lispector sem ...


CORPO E SENSIBILIDADE EM LUCÍOLA, DE JOSÉ DE ALENCAR

Lucíola, de 1862, é um dos romances urbanos de José de Alencar que trata da mercantilização
do indivíduo na sociedade fluminense que se modernizava. A questão da venda do corpo feminino
é problema central na abordagem das práticas culturais do universo da prostituição. O ...


 TRANSGRESSÃO/SUBMISSÃO FEMININA EM LUCÍOLA E SENHORA, DE JOSÉ DE ALENCAR

... 23 ALENCARJosé de. Senhora. 2. ed. São Paulo: Martin Claret, 2008. p. 146-147. Grifos nossos.
24 ALENCARJosé de. Lucíola. 5. ed. São Paulo: FTD, 1999. p. 123. Page 9. ... ALENCARJosé
de. Lucíola. 5. ed. São Paulo: FTD, 1999. ALENCARJosé de. Sonhos d'Ouro. ...

Guernica






Contextualizando...


Guernica: a arte e o terror


O mural de Guernica, Picasso, 1937
"Todos vocês sabem que na Espanha nós não nos situamos como meros observadores desinteressados..." - Hitler, em 29 de abril de 1937.
A segunda-feira negra de Guernica

Era uma 2ª feira, dia de feira-livre na pequena cidade da Biscaia. Das redondezas chegavam as suas estreitas ruas os camponeses do vale de Guernica, no país dos bascos, trazendo seus produtos para o grande encontro semanal. A praça ainda estava bem movimentada quando, antes das cinco da tarde, os sinos começaram os seus badalos. Tratava-se de mais uma incursão aérea. Até aquele dia fatídico - 26 de abril de 1937 - Guernica só havia visto os aviões nazistas da Legião Condor passarem sobre ela em direção a alvos mais importantes, situados mais além, em Bilbao. Mas aquela 2ª feira foi diferente. A primeira leva de Heinkels-11 despejou sua bombas sobre a cidadezinha precisamente às 16:45 horas. Durante as 2 horas e 45 minutos seguintes os moradores viram o inferno desabar sobre eles. Estonteados e desesperados saíram para aos arredores do lugarejo onde mortíferas rajadas de metralhadora disparada pelos caças os mataram aos magotes. No fim da jornada contaram-se 1.654 mortos e 889 feridos, numa população não superior a 7 mil habitantes. Quase 40% haviam sido mortos ou atingidos. A repercussão negativa foi tão grande que os nacionalistas espanhóis trataram logo de atribuí-la aos "vermelhos".
Hitler apóia Franco

Na realidade a tragédia começou oito meses antes, na noite de 25 de julho de 1936, quando, entre um acorde e outro de uma ópera wagneriana, Hitler decidiu-se a apoiar Franco. Na semana anterior o general espanhol havia sublevado o exército contra o governo republicano-esquerdista da Frente Popular. O Führer estava em Bayreuth para prestigiar o tradicional festival musical quando recebeu uma carta do caudilho. A solicitação era modesta. Tratava-se de saber se o governo nazista contribuiria com uma dezena de aviões de transporte e algumas armas. Hitler não hesitou. A vitória comunista na Espanha provocaria, por estímulo, a "bolchevização" da França, e seu regime ver-se-ia sitiado por ela e pela URSS de Stalin.
A Legião Condor


Avião alemão da Legião Condor
Em pouco mais de três meses depois chegava à Sevilha, a Legião Condor. Comandada pelo General Sperrle, ela compunha-se de 4 esquadrões de bombardeios e outros 4 de combate, além de unidades antiaéreas, antitanques e de panzers, num total de 6.500 homens. O acordo com os nacionalistas espanhóis concebia uma grande autonomia das forças nazistas que subordinavam-se apenas ao Jefe del Alzamiento, isto é ao próprio Franco. Madri, ainda em mãos dos republicanos esquerdistas, estava, desde o princípio do levante de 18 de julho, submetida a bombardeios aéreos irregulares. Os estrategistas da Luftwaffe de Goering, recém chegados à área do conflito, estavam excitados em aplicar, de forma maciça, uma tática da terra arrasada. Qual seria o efeito dos bombardeios concentrado? Levas de esquadrilhas conduziriam tipos de bombas diferentes - das de fragmentação às incendiarias -, que seriam lançadas em formações compactas, ininterruptamente, sobre um alvo qualquer a ser designado.
A escolha de Guernica


Sobrevivente dos bombardeios (foto de Robert Capa)
A escolha da pequena Guernica deveu-se a vários motivos. A cidade era um alvo fácil, sem proteção antiaérea, além de não ter uma população numerosa. Além disso abrigava um velho carvalho (Guernikako arbola) embaixo do qual os monarcas espanhóis ou seus legados, desde os tempos medievais, juravam respeitar as leis e costumes dos bascos, bem como as decisões da batzarraks (o conselho basco). Como o levante de Franco foi também contra a autonomia regional, a destruição de Guernica serviria como uma lição a todos os que imaginavam uma Espanha federalista ou descentralizada. Assim, quando a notícia da dizimação provocada pelo bombardeamento "científico" chegou aos jornais provocou um frêmito de horror em todos os cantos do mundo. Quase todos os habitantes de cidades, em qualquer lugar do planeta, sentiram instintivamente que estavam sendo apresentados a um outro tipo de guerra, à guerra total, e que, doravante, por vezes, seria mais seguro estar-se numa trincheira no fronte, do que vivendo numa grande capital.
A Guernica de Picasso

Estéticamente quem melhor captou esse sentimento foi Pablo Picasso. Vivendo em Paris desde o início do século, já era uma celebridade quando o Governo da Frente Popular o procurou para que fizesse algumas telas para arrecadar fundos para a República. A violência e a indignação que causou o bombardeio fez com que ele se concentrasse por 5 meses numa grande tela, quase um mural (350,5 x 782,3). Sua primeira aparição deu-se numa Exposição Internacional sobre a Vida Moderna em Paris, no dia 4 de junho de 1937. O público virou-lhe as costas. 

Não era algo belo de ser visto. Picasso, para retratar o clima sombrio que envolvia o desastre, utilizou-se da cor negra, do cinza e do branco. Como nunca a máxima de Giulio Argan segundo a qual a "arte não é efusão lírica, é problema" tenha sido tão explicitada, como na composição de Picasso. O painel encontra-se dominado no alto pela luz de um olho-lâmpada - símbolo da mortífera tecnologia - seguida de duas figuras de animais. No centro um cavalo apavorado, em disparada, representa as forças irracionais da destruição. A direita dele, impassível, um perfil picassiano de um touro imóvel. Talvez seja símbolo da Espanha em guerra civil, impotente perante a destruição que a envolvia. Logo a baixo do touro, encontramos uma mãe com o filho morto no colo. Ela clama aos céus por uma intervenção. Trata-se da moderna pietá de Picasso. Uma figura masculina, geometricamente esquartejada, domina as partes inferiores. A direita, uma mulher, com seios expostos e grávida, voltada para a luz, implora pela vida, enquanto outra, incinerada, ergue inutilmente os braços para o vazio, enquanto uma casa arde em chamas. Naquele caos a tecnologia aparece esmagando a vida.
Uma obra-prima do século XX

Foi uma das grandes premonições histórico-estéticas do século. Dois anos depois teria o início o martírio das populações de Varsóvia, de Londres, de Berlim, de Hamburgo, de Leningrado, de Dresden, de Hiroxima e de Nagasaki, que padeceriam, devido aos bombardeamentos em massa, dos mesmos tormentos das imagens dilaceradas do quadro de Picasso. Exatamente por não ter nenhum signo específico de agressão, nenhuma suástica ou distintivo franquista ou falangista, a composição transcendeu os acontecimentos da infausta Guerra Civil espanhola, tornando-se um manifesto estético dos horrores provocados por uma tecnologia a serviço da desumanização. Picasso pintou a obra-prima do século, onde se misturam as contradições da nossa época: progresso e violência, catástrofe e prosperidade.
O separatismo basco

Por concentrarem significativos investimentos ingleses e também por abrigarem um classe empresarial empreendora e profundamente católica (um censo de 1970 apontavam o País Basco e Navarra, em toda a Espanha, como os maiores índices de freqüência às missas: 71,3%), os países bascos não conheceram à época do franquismo uma repressão tão violenta como a que se abateu sobre a Catalunha e Valência. Logo depois a Guerra Civil, casas bancárias de Bilbao e de Biscaia expandiram-se para o restante da Espanha, enquanto empresas bascas dedicadas ao comercio de azeite passaram quase a monopoliza-lo em todo o país. Porém essa relativa tolerância (exceção feita ao idioma basco, o euskara, perseguido sem descanso pelos franquistas) para com os antigos anseios autonomistas dos bascos, não fez com que eles desistissem de manter um governo basco no exílio, na vizinha França mais propriamente. 

Em 1957, um significativo grupo de estudantes bascos, militantes do PNV (Partido Nacional Vasco), que viajaram para lá, a titulo de estudos, depois de entrevistarem-se com José Maria Leizaola, chefe do governo Euzkadi (Basco) no exílio, com quem se desentenderam, decidiram-se pela opção armada. Ao contrário de Leizaola, que não simpatizava com a linha da ação violenta, os jovens bascos acreditavam que com o apoio do proletariado, da nova geração que formava no estertor do franquismo, e num clero cada vez mais combativo era possível retomar as bandeiras do separatismo, dando-lhe uma conotação pró-socialista.

Um comunicado do ETA (foto de 1982)

Surgimento do ETA

Bartolomé Bennassar, ao analisar o caso basco ("Pais basco: génesis de una tragedia, in Historia de los españoles. Vol II, Cap. 12, 1989), identifica no desentendimento entre PNV e o ETA, um típico caso de conflito de gerações, onde os mais jovens rebelam-se contra o imobismo dos mais velhos, no caso, os integrantes do PVN (em sua grande maioria ex-veteranos da Guerra Civil de 1936-1939). Como não poderia deixar de acontecer, a nova geração estimulada pelos feitos revolucionários que então corriam o mundo (a Revolução Cubana ocorrera em janeiro de 1959), decidiu-se fundar, no dia 31 de julho de 1959, uma nova agremiação identificada com a luta armada revolucionária: o ETA (Euzkadi Ta Azkatasuna = Pátria basca e liberdade). 

Para arrancar o movimento autonomista do imobilismo em que e encontrava, decidiram-se por ações espetaculares contra o regime franquista. Além de ampla panfletagem e distribuição de jornais clandestinos, no dia 18 de julho de 1961 praticaram um atentado a bomba contra um trem carregado de veteranos franquistas em San Sebastian, dando início a fase mais violente da luta. Portanto, há quarenta anos que os atentados fazem parte do cotidiano dos espanhóis. O mais espetacular deles todos foi quando o ETA, ainda na época franquista, explodiu uma poderosa bomba no carro do Primeiro Ministro Almirante Carreiro Blanco, em Madri.

As divisões do separatismo basco

DataDesignaçãoObjetivos
1894PNV (Partido Nacional Vasco)Lutar pela autonomia do país basco. Depois da derrota na Guerra Civil de 1936, formação do Governo Euzkadi no exílio (1939-1975)
1959ETA (Euzkadi Ta Azkatasuna = Pátria basca e liberdade)Recuperar, via armada, a autonomia e a independência dos bascos, perdida na Guerra Civil de 1936-1939.
1966Divisão do ETA: ETA-V (nacionalistas) e ETA-VI (marxistas-leninistas)Uma facção luta apenas para recupera a autonomia basca, aceitando um caminho pacífico no futuro. A outra, propõe-se a uma luta revolucionária pela independência, tendo o terrorismo como recurso permanente.
1975Fim do franquismo. Anistia e perdão aos integrantes do ETA que abandonassem o terrorismo. Nova divisão no ETA, entre a ala militar (ETA-M) e a civil. HB (Herri Batasuna = unidade do povo), braço civil do ETA, EE (Euzkadiko Ezkerra = esquerda basca)A ETA-M pretende-se integrada no movimento revolucionário internacional aproximando-se do IRA (católicos irlandeses), das Brigadas Vermelha italianas e demais grupos terroristas.


Gravuras: Bartolomé Bennassar - Historia de los españoles, vol II, Grijalbo, Barcelona


(Fonte: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/guernica_eta.htm)

Divulgação de Ciência, Arte e Tecnologia

Revista arScientia

http://www.arscientia.com.br/

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Reportagens sobre Variação Linguística

Teatro


Jorge Andrade – Vereda da salvação

Anexo a ser inserido

Dias Gomes – O pagador de promessas

Anexo a ser inserido

Moliere – Dom Juan

Anexo a ser inserido

Prosa XVI (Julio Cortázar)



Julio Cortázar (1914-1984)

Cronología


         1914: Nace Julio Florencio Cortázar, hijo de Julio Cortázar y María Herminia Scott. “Mi nacimiento (en Bruselas) fue un producto del turismo y la diplomacia”, explicaría jocosamente años después. Bruselas se hallaba bajo dominación alemana.

         1916:
 La familia Cortázar se instala en Suiza, donde aguarda el fin de la Primera Guerra Mundial.

         1918:
 Regreso a la Argentina. La familia se instala en Bánfield, un suburbio de Buenos Aires. El padre (de quien Julio no quiso nunca saber nada, abandona a su mujer y a sus dos hijos. Julio se cría con su madre, una tía, su abuela y su  hermana Ofelia, un año menor que él). “Nunca hizo nada por nosotros”, dirá de su padre. Enfermedades frecuentes, brazos rotos, asma, primeros amores. El cuento Los venenos tiene rasgos autobiográficos.

         1923:
 Primeros ejercicios literarios. “Mi primera novela la terminé a los nueve años”, dirá. También escribe poemas. La familia sospecha que son plagiados, lo cual produce en el joven Cortázar una gran desazón.

         1928:
 Cursa estudios en la Escuela Normal de Profesores Mariano Acosta (cuya atmósfera recreará en el cuento La  escuela de noche), a la que califica de “pésima, una de las peores escuelas imaginables”. Rescata el nombre de dos profesores: Arturo Marasso y Vicente Fattone.

         1932:
 Obtiene el título de Maestro Normal, que lo habilita para ejercer el magistrerio. Ese mismo año intenta sin éxito viajar a Europa en un buque de carga, con un grupo de amigos (fracaso que podemos encontrar explicitado en Lugar llamado Kindberg). “Buenos Aires era una especie de castigo. Vivir allí era estar encarcelado” declara años más tarde en una entrevista concedida a Luis Harss.

         1932:
 En una librería de Buenos Aires descubre el libro Opio, de Jean Cocteau, cuya lectura cambia “por completo” su visión de la literatura y le ayuda a descubrir el surrealismo.

         1935:
 Obtiene el título de Profesor Normal en Letras e ingresa en la Facultad de Filosofía y letras. Aprueba el primer año, pero como en su casa “había muy poco dinero y yo quería ayudar a mi madre”, abandona los estudios para iniciarse en el profesorado.

         1937:
 Es designado profesor en el Colegio Nacional de una pequeña ciudad de la provincia de Buenos Aires, Bolívar. Lee infatigablemente y escribe cuentos que no publica. 

         1938:
 Publica su primera colección de poemas, Presencia con el
seudónimo de Julio Denis. De ellos dirá,  que eran unos sonetos “muy mallarmeanos” y que el libro fue “felizmente” olvidado.

         1939:
 En julio de ese año fue trasladado a la Escuela Normal de Chivilcoy.

         1941:
 Con el seudónimo Julio Denis publica un artículo sobre Rimbaud en la revista Huella, que junto con la revista Canto fueron importantes vehículos de expresión para los jóvenes escritores.

         1944:
 Se traslada a Cuyo, Mendoza, y en su Universidad imparte cursos de Literatura Francesa. Publica su primer cuento, Bruja, en la revista Correo Literario. Participa en manifestaciones de oposición al peronismo.

         1945:
 Cuando Juan Domingo Perón gana las elecciones presidenciales presenta su renuncia. “Preferí renunciar a mis cátedras antes de verme obligado a ‘sacarme el saco’ como les pasó a tantos colegas que optaron por seguir en sus puestos”. Reúne un primer volumen de cuentos, La otra orilla. Regresa a Buenos Aires, donde comienza a trabajar en la Cámara Argentina del Libro.

         1946:
 Publica el cuento Casa tomada en la revista Los anales de Buenos Aires, dirigida por Jorge Luis Borges. Ese mismo año publica un trabajo sobre el poeta inglés John Keats, La urna griega en la poesía de John Keats en la Revista de Estudios Clásicos de la Universidad de Cuyo.

         1947:
 Colabora en varias revistas, Realidad, entre otras. Publica un importante trabajo teórico, Teoría del Túnel.

         1948:
 Obtiene el título de traductor público de inglés y francés, tras cursar en apenas nueve meses estudios que normalmente insumen tres años. El esfuerzo le provoca síntomas neuróticos, uno de los cuales (la búsqueda de cucarachas en la comida) desaparece con la escritura de un cuento, Circe, que junto con Casa Tomada y Bestiario (aparecidos en Los anales de Buenos Aires) será incluído más adelante en Bestiario.

         1949:
 Publica el poema dramático Los Reyes, ignorado por la crítica. Durante el verano escribe una primera novela, Divertimento, que de alguna manera anticipa Rayuela. Divertimento será publicada postumamente en 1986.

         1950:
 Escribe otra novela, El examen, rechazada por el asesor literario de Losada, Guillermo de Torre. Cortázar la presentará a un concurso convocado por la misma editorial, sin éxito. Esta novela también será editada tras la muerte del escritor, en 1986.

         1951:
 Publica su primer libro de cuentos Bestiario, en la editorial Sudamericana, donde ya figuran algunas de sus obras maestras en el género. Pero el libro - salvo para un puñado de lectores - pasa inadvertido. Obtiene una beca del gobierno francés y viaja a París, con la fime intención de establecerse allí. Comienza a trabajar como escritor en la UNESCO.

         1953:
 Se casa con Aurora Bernárdez.

         1954:
 Viaja a Montevideo, durante el año en que la UNESCO realiza allí su conferencia general, en calidad de traductor y revisor. Se aloja en el Hotel Cervantes (ya frecuentado por Jorge Luis Borges), donde transcurre su cuento La puerta condenada . Anda por la ciudad, visita el barrio del Cerro, en el que ubicará a La Maga.

         Continúa trabajando como traductor independiente de la UNESCO.
         Sigue escribiendo lo que luego serán las
 Historias de cronopios y de famas, que había iniciado en el año 1951: “Una noche, escuchando un concierto en el Thèatre des Champs Elysées, tuve bruscamente la noción de unos personajes que se llamarían cronopios”, explicó años después.
         Viaja a Italia, donde empieza a traducir los cuentos de Edgar Allan Poe.

         1956:
 En México (Ed. Los Presentes) publica el libro de cuentos Final del juego, en el que aparece el cuento Los venenos , al que Cortázar considera “autobiográfico”. También lo es el que da título al volumen. Asimismo publica la traducción de Obras en prosa de Poe en la Universidad de Puerto Rico.

         1959:
 Publica Las armas secretas (Ed, Sudamericana), que incluye el cuento largo El perseguidor. Este cuento supone un sesgo en la narrativa de Cortázar. “Fue una iluminación. Terminé de leer ese artículo (que anunciaba la muerte de Charlie Parker) y al otro día o ese mismo día, no me acuerdo, empecé a escribir el cuento. Porque de inmediato sentí que el personaje era él (...) era lo que yo había estado buscando”. Cortázar dice que allí aborda “un problema de tipo existencial, de tipo humano”, que luego se ampliará en Los Premios y sobre todo en Rayuela (Los nuestros, Luis Harss)

         1960:
 Viaja a Estados Unidos (Washington y Nueva York) y publica (Ed. Sudamericana) la novela Los Premios, escrita durante esa larga travesía en barco “...para entretenerme”.

         1961:
 Realiza su primer visita a Cuba, donde tomará conciencia de “el gran vacío político que había en mí, mi inutilidad política. Desde ese día traté de documentarne, traté de entender, de leer”. Ese mismo año la editorial Fayard publica Los Premios, primera traducción de una obra de Cortázar.

         1962:Publica
 Historias de cronopios y de famas, en la editorial Minotauro, de Buenos Aires.

         1963:
 Publica Rayuela (Ed. Sudamericana), de la que se vendieron 5.000 ejemplares en el primer año. “Escribía largos pasajes de Rayuela sin tener la menor idea de dónde se iban a ubicar y a qué respondían en el fondo (...) Fue una especie de inventar en el mismo momento de escribir, sin adelantarme nunca a lo que yo podía ver en ese momento”, dirá. (La fascinación de las palabras). Ese mismo año participa como jurado en el Premio Casa de las Américas, en La Habana.

         1965:
 La editorial Pantheon de Nueva York publica la traducción inglesa de Los Premios y Luchterhand, Berlín, Geschichten der Cronopien und Famen.

         1966:
 Publica el libro de cuentos Todos los fuegos el fuego(Sudamericana, Buenos Aires). En Nueva York, Pantheon publica la traducción al inglés de Rayuela y Gallimard la traducción francesa, de Laure Guille-Bataillon.

         1967:
 Aparece La vuelta al día en ochenta mundos, un volumen que reúne cuentos, crónicas, ensayos y poemas, con una diagramación extremadamente original concebida en gran parte por Julio Silva. El libro, según Cortázar, fue imaginado como un homenaje a Julio Verne “pero de una manera muy indirecta”.

         1968:
 Publica en Buenos Aires (Ed. Sudamericana) la novela 62, Modelo para armar. la novela provoca un cierto desconcierto en la crítica. Cortázar había dicho que le gustaría “llegar a escribir un relato capaz de mostrar cómo esas figuras costituyen una ruptura y un desmentido de la realidad individual, muchas veces sin que los personajes tengan la menor conciencia de ello”. Ese mismo año publica en Buenos Aires, con fotografías de Sara Facio y Alicia D'Amico el libro Buenos Aires, Buenos Aires.

         1968:
 Publica otro de sus libros “almanaque”, Último Round, donde se recogen ensayos, cuentos, poemas, crónicas y textos humorísticos.
         La edición (Siglo XXI, México) está imaginada como un edificio de dos plantas, alta y baja, y cuenta con profusas ilustraciones. El libro contiene (planta baja) una extensa carta de Cortázar a Roberto Fernández Retamar escrita en Saigón el 10 de mayo de 1967, publicada en la Revista de la Casa de las Américas. “Esta carta se incorpora aquí a título de documento, puesto que razones de gorilato mayor impiden que la revista citada llegue al público latinoamericano.” La carta estaba centrada en la situación del intelectual latinoamericano.

         Pantheon de Nueva York publica la traducción inglesa en
 Historias de cronopios y de famas y Einaudi (Torino, Italia) la de Rayuela.

         1970:
 Viaja a Chile, invitado a la asunción del gobierno del presidente Salvador Allende. La editorial Sudamericana publica el libro Relatos, en el que se incluye una selección de cuentos de Bestiario, Final del juego, Las armas secretas y Todos los fuegos el fuego.

         1971:
 Publica Pameos y meopas (Barcelona, Ocnos), que incluye poemas escritos entre 1944 y 1958.

         1972:
 Publica Prosa del observatorio (Barcelona, Lumen, con fotografías del propio Julio Cortázar y la colaboración de Antonio Gálvez).

         1973:
 Aparece Libro de Manuel (Buenos Aires, Sudamericana), que obtiene en París el Premio Médicis. Cortázar viaja a Buenos Aires para presentar el libro. De paso visita Perú, Ecuador y Chile. La novela levanta una considerable polvareda: “...si durante años he escrito textos vinculados con problemas latinoamericanos, a la vez que novelas y relatos en que esos problemas estaban ausentes o sólo asomaban tangencialmente, hoy y aquí las aguas se han juntado, pero su conciliación no ha tenido nada de fácil, como acaso lo muestre el confuso y atormentado itinerario de algún personaje”, escribió en el Prólogo.
         En Barcelona (Tusquets) publica
 La casilla de los Morelli, cuya edición, prólogo y notas estuvieron a cargo de Julio Ortega

         1974:
 Aparece el libro de cuentos Octaedro (Sudamericana). En abril participa en una reunión del Tribunal Russell II reunido en Roma para examinar la situación política en América Latina, en particular las violaciones de los derechos humanos.

         1975:
 Viaja a Estados Unidos invitado por la Universidad de Oklahoma. Allí dicta un ciclo de conferencias sobre literatura latinoamericana y sobre su propia obra. Los trabajos leídos en esa ocasión y dos textos suyos fueron reunidos en el volumen The Final Island: The Fiction of Julio Cortázar(1978), una primera valoración crítica de su obra en lengua inglesa. PublicaFantomas contra los vampiros multinacionales (México, Excelsior), una historieta Publica Silvalandia (México, Cultural GDA), una serie de textos inspirados en cuadros de Julio Silva

         1976:
 Realiza una visita clandestina a la aldea de Solentiname, en Nicaragua. Publica Estrictamente no profesional. Humanario (Buenos Aires, La Azotea) a partir de fotografías de Alicia D’Amico y Sara Facio.

         1977:
 Aparece el libro de cuentos Alguien que anda por ahí (Madrid, Alfaguara), en el que se recoge el texto “Apocalipsis en Solentiname”.

         1978:
 La editorial Pantheon publica en Nueva York la traducción inglesa de Libro de Manuel. Cortázar hace en él una advertencia al lector norteamericano: “Este libro se completó en 1972. La Argentina estaba entonces bajo la dicadura del general Alejandro Lanusse, y ya entonces la intensificación de la violencia y la violación de los derechos humanos eran evidentes. Tales abusos han continuado y han sido incrementados bajo la junta militar del general Videla (...) las referencias a Argentina y otros países latinoamericanos son hoy tan válidas como lo fueron cuando se escribió este libro”

         Publica
 Territorios, textos relativos a la pintura (México, Siglo XXI )

         1979:
 Publica Un tal Lucas (Madrid, Alfaguara). En octubre visita Nicaragua luego del triunfo de los sandinistas. Algunos de sus textos son utilizados en la campaña de alfabetización del país.

         1980:
 Publica el libro de cuentos Queremos tanto a Glenda (México, Nueva Imagen). Realiza una serie de conferencias en la Universidad de Berkeley, California.

         1981:
 En uno de sus primeros decretos, el gobierno socialista de François Miterrand le otorga la nacionalidad francesa, el 24 de julio.

         1982:
 Publica un nuevo libro de cuentos, Deshoras (México, Nueva Imagen). En noviembre muere su esposa, Carol Dunlop.

         1983:
 Aparece el libro Los autonautas de la cosmopista, escrito a cuatro manos con Carol Dunlop, en el que se narra  un viaje de treinta y tres días entre París y Marsella a razón de dos párkings por día.
         Entre el 30 de noviembre y el 4 de diciembre viaja a Buenos Aires, para visitar a su madre después de la caída de la dictadura y la asunción del gobierno por el presidente Raúl Alfonsín. Las autoridades ignoran su presencia, pero es calurosamente recibido por la gente, que lo reconoce en las calles.

         Se publica
 Nicaragua tan violentamente dulce (Managua, Ed. Nueva Nicaragua).

         1984:
 El 12 de febrero Julio Cortázar muere de leucemia y es enterrado en el cementerio de Montparnasse, en la tumba donde yacía Carol Dunlop. En México (Editorial Nueva Imagen) aparece su libro de poemas Salvo el crepúsculo.

         1986:
 La editorial Alfaguara emprende la publicación de las obras completas de Julio Cortázar, incluso aquella que habían permanecido inéditas hasta su muerte. Con ese propósito crea una colección especial, Biblioteca Cortázar. El diseño de las cubiertas fue confiado a Julio Silva.


[Extraído de “La fascinación de las palabras” de Omar Prego Gadea - Julio Cortázar, publicado en 1997 por Alfaguara ©]




Casa tomada
Julio Cortázar

Gostávamos da casa porque, além de ser espaçosa e antiga (as casas antigas de hoje sucumbem às mais vantajosas liquidações dos seus materiais), guardava as lembranças de nossos bisavós, do avô paterno, de nossos pais e de toda a nossa infância.

Acostumamo-nos Irene e eu a persistir sozinhos nela, o que era uma loucura, pois nessa casa poderiam viver oito pessoas sem se estorvarem. Fazíamos a limpeza pela manhã, levantando-nos às sete horas, e, por volta das onze horas, eu deixava para Irene os últimos quartos para repassar e ia para a cozinha. O almoço era ao meio-dia, sempre pontualmente; já que nada ficava por fazer, a não ser alguns pratos sujos. Gostávamos de almoçar pensando na casa profunda e silenciosa e em como conseguíamos mantê-la limpa. Às vezes chegávamos a pensar que fora ela a que não nos deixou casar. Irene dispensou dois pretendentes sem motivos maiores, eu perdi Maria Esther pouco antes do nosso noivado. Entramos na casa dos quarenta anos com a inexpressada idéia de que o nosso simples e silencioso casamento de irmãos era uma necessária clausura da genealogia assentada por nossos bisavós na nossa casa. Ali morreríamos algum dia, preguiçosos e toscos primos ficariam com a casa e a mandariam derrubar para enriquecer com o terreno e os tijolos; ou melhor, nós mesmos a derrubaríamos com toda justiça, antes que fosse tarde demais.

Irene era uma jovem nascida para não incomodar ninguém. Fora sua atividade matinal, ela passava o resto do dia tricotando no sofá do seu quarto. Não sei por que tricotava tanto, eu penso que as mulheres tricotam quando consideram que essa tarefa é um pretexto para não fazerem nada. Irene não era assim, tricotava coisas sempre necessárias, casacos para o inverno, meias para mim, xales e coletes para ela. Às vezes tricotava um colete e depois o desfazia num instante porque alguma coisa lhe desagradava; era engraçado ver na cestinha aquele monte de lã encrespada resistindo a perder sua forma anterior. Aos sábados eu ia ao centro para comprar lã; Irene confiava no meu bom gosto, sentia prazer com as cores e jamais tive que devolver as madeixas. Eu aproveitava essas saídas para dar uma volta pelas livrarias e perguntar em vão se havia novidades de literatura francesa. Desde 1939 não chegava nada valioso na Argentina. Mas é da casa que me interessa falar, da casa e de Irene, porque eu não tenho nenhuma importância. Pergunto-me o que teria feito Irene sem o tricô. A gente pode reler um livro, mas quando um casaco está terminado não se pode repetir sem escândalo. Certo dia encontrei numa gaveta da cômoda xales brancos, verdes, lilases, cobertos de naftalina, empilhados como num armarinho; não tive coragem de lhe perguntar o que pensava fazer com eles. Não precisávamos ganhar a vida, todos os meses chegava dinheiro dos campos que ia sempre aumentando. Mas era só o tricô que distraía Irene, ela mostrava uma destreza maravilhosa e eu passava horas olhando suas mãos como puas prateadas, agulhas indo e vindo, e uma ou duas cestinhas no chão onde se agitavam constantemente os novelos. Era muito bonito.

Como não me lembrar da distribuição da casa! A sala de jantar, lima sala com gobelins, a biblioteca e três quartos grandes ficavam na parte mais afastada, a que dá para a rua Rodríguez Pena. Somente um corredor com sua maciça porta de mogno isolava essa parte da ala dianteira onde havia um banheiro, a cozinha, nossos quartos e o salão central, com o qual se comunicavam os quartos e o corredor. Entrava-se na casa por um corredor de azulejos de Maiorca, e a porta cancela ficava na entrada do salão. De forma que as pessoas entravam pelo corredor, abriam a cancela e passavam para o salão; havia aos lados as portas dos nossos quartos, e na frente o corredor que levava para a parte mais afastada; avançando pelo corredor atravessava-se a porta de mogno e um pouco mais além começava o outro lado da casa, também se podia girar à esquerda justamente antes da porta e seguir pelo corredor mais estreito que levava para a cozinha e para o banheiro. Quando a porta estava aberta, as pessoas percebiam que a casa era muito grande; porque, do contrário, dava a impressão de ser um apartamento dos que agora estão construindo, mal dá para mexer-se; Irene e eu vivíamos sempre nessa parte da casa, quase nunca chegávamos além da porta de mogno, a não ser para fazer a limpeza, pois é incrível como se junta pó nos móveis. Buenos Aires pode ser uma cidade limpa; mas isso é graças aos seus habitantes e não a outra coisa. Há poeira demais no ar, mal sopra uma brisa e já se apalpa o pó nos mármores dos consoles e entre os losangos das toalhas de macramê; dá trabalho tirá-lo bem com o espanador, ele voa e fica suspenso no ar um momento e depois se deposita novamente nos móveis e nos pianos.

Lembrarei sempre com toda a clareza porque foi muito simples e sem circunstâncias inúteis. Irene estava tricotando no seu quarto, por volta das oito da noite, e de repente tive a idéia de colocar no fogo a chaleira para o chimarrão. Andei pelo corredor até ficar de frente à porta de mogno entreaberta, e fazia a curva que levava para a cozinha quando ouvi alguma coisa na sala de jantar ou na biblioteca. O som chegava impreciso e surdo, como uma cadeira caindo no tapete ou um abafado sussurro de conversa. Também o ouvi, ao mesmo tempo ou um segundo depois, no fundo do corredor que levava daqueles quartos até a porta. Joguei-me contra a parede antes que fosse tarde demais, fechei-a de um golpe, apoiando meu corpo; felizmente a chave estava colocada do nosso lado e também passei o grande fecho para mais segurança.

Entrei na cozinha, esquentei a chaleira e, quando voltei com a bandeja do chimarrão, falei para Irene:

— Tive que fechar a porta do corredor. Tomaram a parte dos fundos.

Ela deixou cair o tricô e olhou para mim com seus graves e cansados olhos.

— Tem certeza?

Assenti.

— Então — falou pegando as agulhas — teremos que viver deste lado.

Eu preparava o chimarrão com muito cuidado, mas ela demorou um instante para retornar à sua tarefa. Lembro-me de que ela estava tricotando um colete cinza; eu gostava desse colete.

Os primeiros dias pareceram-nos penosos, porque ambos havíamos deixado na parte tomada muitas coisas de que gostávamos. Meus livros de literatura francesa, por exemplo, estavam todos na biblioteca. Irene pensou numa garrafa de Hesperidina de muitos anos. Freqüentemente (mas isso aconteceu somente nos primeiros dias) fechávamos alguma gaveta das cômodas e nos olhávamos com tristeza.

— Não está aqui.

E era mais uma coisa que tínhamos perdido do outro lado da casa.

Porém também tivemos algumas vantagens. A limpeza simplificou-se tanto que, embora levantássemos bem mais tarde, às nove e meia por exemplo, antes das onze horas já estávamos de braços cruzados. Irene foi se acostumando a ir junto comigo à cozinha para me ajudar a preparar o almoço. Depois de pensar muito, decidimos isto: enquanto eu preparava o almoço, Irene cozinharia os pratos para comermos frios à noite. Ficamos felizes, pois era sempre incômodo ter que abandonar os quartos à tardinha para cozinhar. Agora bastava pôr a mesa no quarto de Irene e as travessas de comida fria.

Irene estava contente porque sobrava mais tempo para tricotar. Eu andava um pouco perdido por causa dos livros, mas, para não afligir minha irmã, resolvi rever a coleção de selos do papai, e isso me serviu para matar o tempo. Divertia-nos muito, cada um com suas coisas, quase sempre juntos no quarto de Irene que era o mais confortável. Às vezes Irene falava:

— Olha esse ponto que acabei de inventar. Parece um desenho de um trevo?

Um instante depois era eu que colocava na frente dos seus olhos um quadradinho de papel para que olhasse o mérito de algum selo de Eupen e Malmédy. Estávamos muito bem, e pouco a pouco começamos a não pensar. Pode-se viver sem pensar.

(Quando Irene sonhava em voz alta eu perdia o sono. Nunca pude me acostumar a essa voz de estátua ou papagaio, voz que vem dos sonhos e não da garganta. Irene falava que meus sonhos consistiam em grandes sacudidas que às vezes faziam cair o cobertor ao chão. Nossos quartos tinham o salão no meio, mas à noite ouvia-se qualquer coisa na casa. Ouvíamos nossa respiração, a tosse, pressentíamos os gestos que aproximavam a mão do interruptor da lâmpada, as mútuas e freqüentes insônias.

Fora isso tudo estava calado na casa. Durante o dia eram os rumores domésticos, o roçar metálico das agulhas de tricô, um rangido ao passar as folhas do álbum filatélico. A porta de mogno, creio já tê-lo dito, era maciça. Na cozinha e no banheiro, que ficavam encostados na parte tomada, falávamos em voz mais alta ou Irene cantava canções de ninar. Numa cozinha há bastante barulho da louça e vidros para que outros sons irrompam nela. Muito poucas vezes permitia-se o silêncio, mas, quando voltávamos para os quartos e para o salão, a casa ficava calada e com pouca luz, até pisávamos devagar para não incomodar-nos. Creio que era por isso que, à noite, quando Irene começava a sonhar em voz alta, eu ficava logo sem sono.)

É quase repetir a mesma coisa menos as conseqüências. Pela noite sinto sede, e antes de ir para a cama eu disse a Irene que ia até a cozinha pegar um copo d'água. Da porta do quarto (ela tricotava) ouvi barulho na cozinha ou talvez no banheiro, porque a curva do corredor abafava o som. Chamou a atenção de Irene minha maneira brusca de deter-me, e veio ao meu lado sem falar nada. Ficamos ouvindo os ruídos, sentindo claramente que eram deste lado da porta de mogno, na cozinha e no banheiro, ou no corredor mesmo onde começava a curva, quase ao nosso lado.

Sequer nos olhamos. Apertei o braço de Irene e a fiz correr comigo até a porta cancela, sem olhar para trás. Os ruídos se ouviam cada vez mais fortes, porém surdos, nas nossas costas. Fechei de um golpe a cancela e ficamos no corredor. Agora não se ouvia nada.

— Tomaram esta parte — falou Irene. O tricô pendia das suas mãos e os fios chegavam até a cancela e se perdiam embaixo da porta. Quando viu que os novelos tinham ficado do outro lado, soltou o tricô sem olhar para ele.

— Você teve tempo para pegar alguma coisa? — perguntei-lhe inutilmente.

— Não, nada.

Estávamos com a roupa do corpo. Lembrei-me dos quinze mil pesos no armário do quarto. Agora já era tarde.

Como ainda ficara com o relógio de pulso, vi que eram onze da noite. Enlacei com meu braço a cintura de Irene (acho que ela estava chorando) e saímos assim à rua. Antes de partir senti pena, fechei bem a porta da entrada e joguei a chave no ralo da calçada. Não fosse algum pobre-diabo ter a idéia de roubar e entrar na casa, a essa hora e com a casa tomada.

Filho de pai diplomata, Julio Cortázar nasceu por acaso em Bruxelas, no ano de 1914. Com quatro anos de idade foi para a Argentina. Com a separação de seus pais, o escritor foi criado pela mãe, uma tia e uma avó. Com o título de professor normal em Letras, iniciou seus estudos na Faculdade de Filosofia e Letras, que teve que abandonar logo em seguida, por problemas financeiros. Para poder viver, deu aulas e diversos colégios do interior daquele país. Por não concordar com a ditadura vigente na Argentina, mudou-se para Paris, em 1951. Autor de contos considerados como os mais perfeitos no gênero, podemos citar entre suas obras mais reconhecidas “Bestiário” (1951), “Las armas secretas” (1959), ), “Rayuela”, (1963), “Todos los fuegos el fuego” (1966), “Ultimo round” (1969), “Octaedro” (1974), “Pameos y Meopas” (1971), “Queremos tanto a Glenda (1980), “Salvo el crepúsculo” — póstumo (1984) e "Papéis inesperados" — póstumo (2010). O escritor morreu em Paris, de leucemia, em 1984.

O texto acima foi publicado originalmente em "Bestiario" e extraído do livro "Contos Latino-Americanos Eternos", Bom Texto Editora, Rio de Janeiro — 2005, pág. 09, organização e tradução de Alicia Ramal.





Hilda hilst e Cortázar

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