Luiz Vilela
Luiz Vilela: Riso, ironia e sátira.
por Rauer *
publicado em
7/7/2003.
"É preciso verificar em que grau
e em que condições um mesmo fenômeno possui, sempre ou não, os traços da
comicidade".(Propp)
Em literatura, as
manifestações do riso podem apresentar gradações extremas ou sutis. Entre
outras, as formas do riso podem variar da sátira desbragada ao humor de fina
ironia, podem se manifestar numa piada ou num chiste ou apresentar-se como
paródia, podem ser cômicas através de trocadilho ou podem ser caricatura, podem
ser de escárnio, de exclusão, ou podem ser de simpatia, de aceitação. As
definições sobre o riso literário estão condicionadas à recepção da obra, uma
vez que a comicidade, se inerente ao texto literário, depende da reação do
leitor para se estabelecer como riso.
A ironia, por
exemplo, é definida por Cherubim (1989: 41-42) como sendo uma afirmação que na
verdade quer exprimir o oposto do que aparentemente está afirmando. A
decodificação cabe ao leitor. Se o leitor não proceder à decodificação, a
mensagem muda de sentido. E se o leitor entender como ironia uma afirmação que
o autor não pretendia irônica, o leitor constrói um texto oposto ao pretendido
pelo autor.
Não bastasse essa
ambigüidade latente, poderíamos dizer que quase genética, uma outra questão se
coloca hoje diante do estudioso: a questão da autoria. Conhecer o autor
torna-se uma pista que auxilia a discernir o riso presente no texto. Ao
incorporar a paródia, o pastiche, a colagem e a cópia como estratégia textual,
a literatura contemporânea criou questões teóricas difíceis. Tornou cotidiana a
discussão de conceitos como os de originalidade, de autoria e de propriedade
intelectual. Discutir o conceito de autor, quando a ambigüidade do texto
poderia ser dirimida examinando-se a autoria, torna-se, portanto, um problema
adicional.
No entanto, não nos
ocuparemos aqui nem dessas dificuldades aliás, fértil espaço para o riso nem
daquela ambigüidade. Procuraremos definir algumas das formas do riso em Luiz Vilela, uma vez que os
seus contos as apresentam em diversificada gama. Consideraremos, conforme
Propp, que o cômico nem sempre é risível e que as formas literárias do cômico
se mesclam, dificilmente encontrando-se puras.
Luiz Vilela já publicou seis coletâneas de contos, duas
novelas, quatro romances e onze antologias.Graça, romance de 1989, se apresenta, desde o título,
como uma visão panorâmica do riso literário. Nele, faz citações (que podem ser
entendidas como homenagens) e paródias, ridiculariza as máscaras e convenções
sociais, satiriza instituições, brinca com as palavras, apresenta o grotesco da
comédia humana.
No conto "Tarde da noite", do livro homônimo,
encontramos o seguinte diálogo, carregado de ironias, chistes e piadas:
"Humor negro."
"Humor o quê?"
"Negro", falou a voz mais
alto e com uma certa irritação. "Não sabe o que é isso? Humor negro?"
"Sei", ele falou meio
sem-graça diante daquela súbita irritação.
"Então quê que é",
perguntou a voz com ar de quem desconfiava que ele não soubesse.
"Humor negro é um humor macabro,
é... um humor pessimista..."
"Que humor não é
pessimista?"
"Como?"
"Estou perguntando: existe humor
que não seja pessimista?"
O homem pensou um pouco:
"Existe. Existe um humor sadio."
"Sadio? Quer dizer que sadio é o
que não é pessimista, e pessimista o que não é sadio?" (p. 189.)
(...)
"Pode ter essa
grata fineza de me dizer o que é humor negro?"
"É o humor que se faz na
África."
"Na África", ele repetiu,
no tom de quem prossegue a brincadeira e de repente é que percebeu o
trocadilho. (p. 190.)
Ou seja, Vilela não só
introduz o riso em sua literatura, como sobre ele trata metalingüisticamente. E
exatamente esse conto foi adaptado, em 2001, para a série "Brava gente", da Rede Globo, que
privilegiou suas características cômicas. O tom de comédia, que, aliás, pode
passar desapercebido em uma primeira leitura, é dado pelo desencontro entre o
que um personagem fala e o que o outro entende, e é realçado no final do conto
quando o personagem, aflito, atende, ao telefone, a uma moça que imagina linda,
sensual, e sua mulher uma megera, desgrenhada, cara cheia de creme o acorda:
"você está sonhando?"
Esse questionamento
sem tréguas dos conceitos, como vimos na citação, e que pode chegar às margens
do niilismo, é constante em Vilela. Inclusive muitos dos títulos de seus contos
são irônicos e até mesmo auto-irônicos. Eis alguns: "Nosso dia",
"Espetáculo de fé", "Deus sabe o que faz" e "Enquanto
dura a festa", na coletânea Tremor de terra (doravante abreviada TT); "Filosofia", emNo bar (NB); "A pátria
precisa de você", em Tarde da noite (TN); "O monstro", em O fim de tudo(FT); "Feliz
natal", "Os tempos mudaram", "Para vocês mais um
capítulo", e "Boa de garfo", na coletânea Lindas pernas (LP).
Antes do niilismo,
no entanto, o questionamento instaura-se como sátira. Alfredo Bosi vê a sátira
como crítica à "desordem estabelecida", ou seja, uma espécie de
utopia (1977: 145). Vê ainda que a paródia nasce da crise, crise essa que faz
uma estética sobreviver "como disfarce, véu ideológico" (p. 164).
Essa crítica à desordem estabelecida é o móvel de toda a obra de Vilela. Em
entrevista a Rosângela Ribeiro (1989), ele afirmou: "Minha literatura
sempre foi essencialmente crítica".
No conto "Domingo" (TN: 23-25) as
menções e o pastiche de anúncios publicitários, a nomeação de produtos
industrializados, o recortar desconexo de canções das rádios, a ironia com as
convenções da língua, o sufocamento do indivíduo que se encontra em solidão
existencial num mundo onde impera a comunicação todos esses elementos,
apresentados no turbilhão de um fluxo de consciência, denunciam e criticam, em
paródias de ritmo alucinatório, o "véu ideológico" que massacra o
homem comum.
Nesse conto, se
consideradas as concepções de Bosi, verificamos que o ímpeto crítico tem uma
função regeneradora, a denúncia se faz para que seja construída uma nova ordem,
a obra literária transcende a função estética e a catarse momentânea, apontando
para possibilidades humanas e sociais além daquelas da verossimilhança da
ficção. Ou seja, a literatura pode ter um papel de provocar mudanças sociais,
mudanças religiosas, mudanças culturais, não sendo somente fruição estética,
prazer, emoção, riso.
A caricatura também
tem espaço na obra de Luiz Vilela. No já citado "Tarde da noite" um homem que
dorme ao lado da sua mulher acorda com o telefone tocando. É uma moça, que ele
imagina ser "uma moça delicada e bonita, extremamente simpática e
inteligente" (p. 183). A moça anuncia que está preste a se suicidar. A
esposa tenta fazer com que o homem desligue o telefone e volte a dormir. Eis
como a mulher é descrita:
os cabelos desarranjados (p. 181);
ele observou-a e achou aquele gesto feio, grosseiro, masculinizado.
Observou-lhe também o rosto, lambuzado de creme (p. 184); arrancava o esmalte
das unhas (p. 185); a cara azeda de raiva (p. 185); A mulher bocejou abrindo
toda a boca e os braços (p. 185); ouviu com satisfação um pequeno e súbito
ronco (p. 186-187); ela dorme feito um... um animal (p. 194); Gorda? Ela é uma
bola. E está cada dia mais gorda (p. 194).
João Adolfo Hansen,
em A sátira e o engenho, trata dos topoi que constituem a sátira. Entre outros, eles podem
se dar através da constituição física e da aparência do satirizado. Sobre a
caricatura, Sylvia Telarolli Leite diz que ela exagera traços, distorce,
provoca rebaixamento, degrada, enfatiza o mecânico, o grotesco, o ridículo, expondo-os
de forma depreciativa, sendo um dos componentes centrais da sátira (Leite:
passim).
A citação compõe uma
imagem caricaturesca e satirizada da mulher. Ela é re-baixada a animal e a
objeto geométrico, é apresentada lambuzada, masculinizada, decomposta, azeda,
bocejando (a boca toda aberta) e roncando.
No conto "Olhos verdes" (NB: 40-42)
temos um estereótipo de homossexual; em "Velório" (TN: 63-72), alguns
personagens apresentam-se grotescos e animalizados; em "Pais e
filhos"(FT: 123-135) tudo é grotesco, inclusive o enredo; em "Boa de
garfo" (LP: 115-125) uma cachorra é antropomorfizada; em "Os tempos
mudaram" (LP: 51-58) a descrição da igreja, do padre modernoso e da moça
rebolante mescla comicidade e nostalgia; e em "Para vocês mais um
capítulo" (LP: 59-64) surge um guia satírico que discerne e critica o que
o outro personagem não é capaz de perceber sozinho.
No conto "A feijoada" (FT: 103-114)
temos vários aspectos que constituem a sátira e a caricatura, do rebaixamento
do "doutor" à elevação de subalternos (o garçom, "lacaio
real" - p. 108). A tragicomédia do pequeno-burguês solitário que todo
sábado se empanturra numa feijoada, entre arrotos e flatulências, tem ares de
farsa, tangencia o grotesco, termina em autoflagelação que poderia ser irônica,
não revelasse um drama existencial sincero e que parece contaminar a alma do
leitor.
Outra característica
da obra de Luiz Vilela é o diálogo intertextual com obras e autores da
literatura ocidental. Em Entre amigos, o alter-ego do autor (cf. Rauer, 2001) cita
Oscar Wilde e Voltaire (p. 20), reconhecidos mestres da sátira, e cita Camões
para elogiar os seios da mulher que pretende seduzir (p. 105). Em Graça, o morcego que
atormenta a personagem-título recebe o nome de Jonathan, numa alusão a Swift.
Os autores russos dominam a cena em O choro no travesseiro, e um dos
personagens, alcoólatra, morre lentamente, lembrando os personagens patéticos
de diversos autores russos.
O conto "As neves de outrora" (FT: 115-122)
deve seu título a François Villon, poeta que passou para a história como
crítico mordaz da sociedade que o marginalizou. Nesse conto, um sobrinho faz
jogo de palavras sem sentido e a tia não lhe dá atenção. O saudosismo do conto,
defendido pela senhora esclerosada, fica, então, imerso numa aura de ironia,
enquanto o moralista que critica a atualidade e prega a volta ao passado parece
implicitamente perceber que, se melhor do que hoje, o passado também não era lá
essas coisas.
No conto "Uma lástima" (FT:
175-184), um personagem ensina o que é dignidade, mas a sua barriga parece
isolada do resto do corpo: "Era uma coisa engraçada: é como se ele fosse
uma coisa e a barriga dele outra, e a barriga estivesse rindo dele".
Em "Surpresas da vida" (FT: 41-50), um jovem se reencontra com seu
ex-professor e co-memoram a casualidade em um bar. Aí, o professor manifesta
extremada gula, mas deixa a despesa do que fartamente comeu e bebeu para o
ex-aluno. O professor promete que de uma próxima vez a conta será dele e fala
que aquele reencontro "foi um grande prazer". Tem por resposta um
arroto. É o excesso e o grotesco características normalmente associadas à
sátira manifestando-se.
A exploração do
nonsense surge no conto "O fantasma" (TT: 95-100). Trata-se do diálogo, com passagens
hilárias, em que a razão domina o sentimento quando o normal, na situação,
seria o medo abafar a inteligência. No final, aterrorizado com o homem, que
tranqüilamente vai dormir no casarão abandonado, o fantasma desaparece. Em
"Nosso dia" (TT: 41-42), o pedido de atenção da mulher termina num arroto
do marido grosseiro.
Em Tarde da noite, diversos contos
utilizam-se de elementos do riso literário. É o grotesco do pedófilo em
"Com seus próprios olhos" (p. 5-12); é a constatação de que
"depois de velho todo retrato da gente parece caricatura", do
tragicômico. "Os sobreviventes" (p. 45-58); é o grotesco strip-tease
de "Bárbaro" (p. 81-92); são as piadas em diversos contos; é o
conto-piada ("Suzana", p. 145-148), no qual a verdade, surpreendente,
que quebra todas as expectativas, é revelada apenas na última linha.
Em "Meus oito anos" (NB: 7-12), a
santa no altar da igreja é vesga e o grotesco, o exagero, a exploração do
baixo-ventre e a caricatura estão presentes:
Deus do Antigo Testamento era meu avô
barbudo (...) matara cobras e onças (...) dobrava barras de ferro (...) vi ele
abraçar a preta por trás (...) começou a relinchar feito burro (...) vi que ela
era desdentada (...) espichou a barba para frente feito um bode (...) raspou o
chão feito um boi (...) deu uma corridinha feito um porco (...) segurando o seu
traseiro, gemia (p. 9).
Meninos que
ridicularizam a pessoa diferente estão no conto "Um caixote de lixo" (NB: 26-30).
Em "Sofia" (NB: 55-57), o personagem morre "de tanto
comer". Também de NB, "Filosofia" (p. 85-98) tem humor sutil e
tem compassiva ironia na crítica à faculdade de filosofia, ao professor
dedicado e à professora fútil.
Aliás, caberia todo
um estudo das personagens femininas de Vilela: numa primeira impressão, a maioria delas é fútil
e rancorosa; nesse estudo, a única supostamente bonita e inteligente parece
mal-amada e anuncia o seu suicídio. Parece interessante, também, levantar o
diálogo, mesmo implícito, que Vilela estabelece com autores da literatura
brasileira e da literatura universal. Estimulante também seria rastrear de que
forma o riso em Vilela reflete a sociedade brasileira, estudar a
intertextualidade carnavalizada do romance Graça (1989).
Aliás, se esse
romance, através do narrador em primeira pessoa, Reginaldo Carvalho, por
alcunha Epifânio, faz centenas de citações e alusões, entre homenagens que
presta e ironias que aniquilam, é interessante observar que o conto "A
arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro", do livro Romance negro e outras
histórias, de Rubem Fonseca, lançado em 1992, apresenta também um personagem
escritor de nome Epifânio, Augusto Epifânio, numa narrativa em que o
rebaixamento dos personagens através da fome - seja sexual, seja de comida,
seja de escritura, - constitui um dos aspectos marcantes do texto.
Também importante
seria levantar, na obra contística de Luiz Vilela, a crítica onipresente ao
catolicismo aliás, diversos contos se opõem ao Deus da Igreja, mostrando-o
cruel e dispensável. Também parece estimulante, e não só, evidentemente, para a
leitura de Vilela, acompanhar e ampliar as considerações de Mário Gonzáles
sobre o neopícaro. Mas todas essas inquietações extrapolam os limites traçados
para esse trabalho, que deve se ater ao riso, à ironia e à sátira em Vilela.
E quanto ao riso
literário, ele também, à semelhança do que ocorre nos contos, permeia os
romances e as novelas de Vilela, da mesma forma comparecendo em seu mais
recente livro de contos. O romance Entre amigos é pródigo em ironias, em
relatos de humor sádico, em piadas e em chistes. A novela O choro no
travesseiro tem uma tia, beata e solteirona, que é uma caricatura ambulante. O
romance O inferno é aqui mesmo tem personagens que fazem jogo de palavras e
trocadilhos, que contam piadas e se agridem, que se tratam e se magoam com
palavras, com ironias, e com mútuo descaso. A novela Te amo sobre todas as
coisas transforma a polifonia de vozes de O inferno é aqui mesmo no diálogo de
rompimento de um casal, diálogo que mescla agressividade, chistes e silêncios. No
livro A cabeça, diversos contos
trazem a marca do satírico, incluindo agora o universo da política, com o conto
"Más notícias". A sátira é construída, em A cabeça, através de marcas
lingüísticas que denunciam a face do narrador aparente-mente ausente da
narrativa, face essa que permite intuir, na obra, a visão de mundo do autor. Em
Os novos, primeiro romance de Vilela, o panorama histórico do início da
ditadura militar, nos anos 60, possibilita reflexões satíricas e gozações,
entremeadas de auto-ironia diante da inação dos personagens.
Esse trajeto
panorâmico pela obra de Vilela nos permite algumas conclusões. A primeira, é que
existem alguns temas recorrentes: o amor, o sexo, a velhice e a loucura são
alguns. A segunda, é que a ficção de Vilela se assenta sobre um compassivo
humanismo, conforme amplamente estudado por Wania de Sousa Majadas em
O diálogo da
compaixão na obra de Luiz Vilela (2000). A terceira, é que o espaço da narrativa
pode ir de um bar ao aeroporto, da alcova ao alpendre, da redação de um jornal
em uma grande cidade a uma casa perdida no sertão, mas não é somente o meio que
faz o homem. Uma quarta conclusão é que a estratégia narrativa do diálogo
permite a Vilela discutir de literatura a acidentes aéreos, fazer de tiradas
filosóficas a gozações "cabeludas", permite, enfim, ir num átimo do
chulo ao lírico, do grotesco à ternura, do sério ao comê-lo.
Dessa forma, chistes
e piadas, caricaturas e trocadilhos, metalinguagem e paródias, formam um quadro
de crítica à sociedade brasileira e ao homem contemporâneo e constituem o
"espelho implacável" entrevisto por Wilson Martins (2000). Essa
crítica impiedosa e abrangente, não seria, por si só, classificada como sátira.
Mas como ela é contínua, sistemática, implacável, poderíamos dizer que se trata
de uma sátira a la Luiz Vilela, sátira que se constitui, assim, em uma crítica
ampla, contínua, sistemática, implacável e auto-irônica da sociedade brasileira
e do homem contemporâneo. Se a conceituamos dessa forma, o fazemos com a
liberalidade concedida pela lição de Propp que está na epígrafe. Conceituação
sujeita a polêmicas à parte, embora ela possa servir como uma luva à obra de um
Machado de Assis, por exemplo, o que é inegável é que muitas das formas do
cômico estão na obra de Vilela.
Efetivamente, o riso
é um dos elementos marcantes da obra do ficcionista: da gargalhada inopinada ao
sorriso amarelo, desconsolado, assim como da ironia sutil à caricatura, a
sátira, em Luiz Vilela, se veste de verossimilhança e o ataque virulento
transcende ao momentâneo e ao transitório.
Trata-se de um
cômico que absorve as lições dos clássicos do humor e as transmuta, trata-se de
sátira que rompe os limites da estreiteza temporal e incorpora as qualidades
perenes do estético, trata-se de caricatura que deforma, mas é absolutamente
verossímil, trata-se de ironia cruel e demolidora, ironia que é, no entanto,
temperada pela compaixão. Eis o grande feito da poética de Luiz Vilela: o riso
não é gratuito, a crítica não se esgota no episódico, e muito embora sua ficção
não seja nem panfletária, nem militante, nem partidária, é uma ficção
contundente e sem concessões, é niilista diante das convenções humanas, têm
asco diante das máscaras sociais, abomina as formas coercitivas de organização
da sociedade. É ficção que vai ao cerne, ao coração do problema: o homem o
homem que, apesar de seus instintos baixos, obscuros, tem uma grandeza inerente
à sua própria existência, não precisando de Deus para erigi-la.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Cultrix/Edusp, 1977.
CHERUBIM,
Sebastião. Dicionário de figuras de linguagem. São Paulo: Pioneira, 1989.
GONZÁLES,
Mário. A saga do anti-herói. São Paulo: Nova Alexandria, 1999.
HANSEN, João
Adolfo. A sátira e o engenho. São Paulo: Cia das Letras, 1989.
LEITE, Sylvia Helena
Telarolli de Almeida. Chapéus de palha, panamás, plumas,
cartolas: a caricatura na literatura paulista (1900-1920).
São Paulo: Unesp, 1996.
MAJADAS, Wania de
Souza. O diálogo da compaixão na obra de
Luiz Vilela. (Dissertação de
Mestrado.) Uberlândia: Rauer Livros, 2000.
MARTINS, Wilson.
"Música de câmara". In: VILELA, Luiz. Os melhores contos de Luiz Vilela(introdução). 3ª
ed., São Paulo: Global, 2000.
PROPP,
Vladimir. Comicidade e riso. São Paulo: Ática, 1992.
RAUER. (Rauer Ribeiro
Rodrigues.) O gênio e o urubu: comentários à recepção jornalística do romance
Entre amigos, de Luiz Vilela. (Monografia de especialização; orientadora:
profa. Dra. Joana Luiza Muylaert de Araújo.) Uberlândia: Universidade Federal
de Uberlândia, 2001. Não publicada.
RIBEIRO,
Rosângela. "Em estado de Graça". In: Estado de Minas, caderno 2ª secção, 1ª capa.
Belo Horizonte: 9 nov. 1989.
VILELA, Luiz. A cabeça. São Paulo: Cosac
& Naify, 2002.
--- . O Choro no travesseiro. 8a. ed. São Paulo:
Atual, 1994.
--- . Entre amigos. São Paulo: Ática,
1983.
--- . O fim de tudo. Belo Horizonte:
Liberdade, 1973.
--- . Graça. São Paulo: Estação
Liberdade, 1989.
--- . O inferno é aqui mesmo. São Paulo: Círculo
do Livro, 1988.
--- . Lindas Pernas. São Paulo:
Cultura, 1979.
--- . No bar. 2a. ed. São Paulo:
Ática, 1984.
--- . Os novos. 2a. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
--- . Perdição. (Novela.)
Lançamento previsto para 2003.
--- . Tarde da noite. São Paulo:
Vertente, 1970.
--- . Te amo sobre todas as coisas. Rio de Janeiro:
Rocco, 1994.
--- . Tremor de terra. 4a. ed. São Paulo:
Ática, 1977.
(O presente artigo foi publicado
inicialmente na página LITERATURA do Jornal "Diário
Regional", de Ituiutaba, Minas Gerais, na edição de 30 de maio de
2003.)
In Verdes trigos, documento em meio
eletrônico, disponível em http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/cronica_ver.asp?id=87
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